Vitória (ES) – Na última quarta-feira (21), a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) realizou uma audiência pública para discutir o fim da escala 6×1 — jornada em que o trabalhador cumpre seis dias seguidos de trabalho e tem apenas um dia de folga na semana. O encontro reuniu sindicatos, movimentos sociais e parlamentares, que defenderam o direito ao descanso, lazer e uma vida mais saudável para a classe trabalhadora.
A deputada Camila Valadão (Psol), presidente do colegiado, destacou que cerca de 30% dos trabalhadores no estado atuam sob essa escala, sendo a maioria da população negra. Ela ressaltou que o debate não é apenas uma pauta momentânea, mas histórica e fundamental para a classe trabalhadora, combatendo a ideia de que o fim da escala poderia prejudicar a economia: “Falar em descanso é falar de produtividade”.
A vereadora de Vitória, Ana Paula Rocha (Psol), também ressaltou o impacto social da pauta, principalmente para mulheres que enfrentam a “tripla jornada” — trabalho, casa e cuidado da família — evidenciando a necessidade de mais tempo para lazer e convivência familiar.
Representantes do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que luta por jornadas mais humanas no Brasil, apontaram experiências internacionais, como Alemanha e Reino Unido, onde jornadas reduzidas trouxeram ganhos à saúde dos trabalhadores e à produtividade.
O coordenador nacional do VAT, Wesley Fábio Silva Pinto, compartilhou sua experiência pessoal, quando teve que abandonar os estudos por conta da escala 6×1 e adoecer devido à sobrecarga. A presidenta da CUT-ES, Clemilde Cortes Pereira, reforçou que descanso é um direito e não um luxo, essencial para a vida do trabalhador.
Durante a audiência, a deputada Camila Valadão apresentou o Projeto de Lei (PL) 635/2024, que propõe acabar com a escala 6×1 nos contratos públicos, garantindo dois dias de descanso semanais sem redução salarial. O projeto recebeu emenda para incluir também contratos por concessão e permissão de serviços públicos, como o transporte coletivo, buscando assegurar melhores condições e evitar precarização.
“É fundamental que o poder público dê o exemplo no respeito ao trabalhador, e que terceirização não signifique exploração”, finalizou Camila.