Motoristas de aplicativo que atuam no estado participaram de reunião virtual nesta segunda-feira (15) da frente parlamentar que os representa na Assembleia Legislativa (Ales). Aos deputados, os condutores relataram dificuldades enfrentadas neste cenário de pandemia que impactam no rendimento da atividade.
O vice-presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Espírito Santo, Ricardo Gomes Avelino, reclamou que, além da queda “brutal” na demanda por corridas, muitos motoristas estão sendo contaminados.
Ele afirmou que apesar de o Uber oferecer um auxílio financeiro para motoristas de sua estrutura que estejam com Covid-19, a maioria que fica em quarentena acaba não recebendo ajuda. Segundo disse, a empresa exige a apresentação de exame com resultado positivo, mas a saúde pública não está testando suficientemente os motoristas com sintomas da doença no estado.
O presidente da entidade que representa a categoria, Luiz Fernando Machado Müller, relatou que muitos condutores de veículos de app são cardiopatas e, por fazerem parte do grupo de risco para a Covid-19, nem sequer podem trabalhar. Müller afirmou que eles também estão passando por dificuldades de sobrevivência devido à falta de ajuda.
O presidente criticou também novo serviço que está sendo lançado no País, chamado POP Poupe, da empresa 99 POP, já em funcionamento no Rio de Janeiro. A novidade concede desconto de 15% nas viagens feitas por meio de veículos que prestam serviço para a empresa.
“Nós seremos penalizados se isso (POP Poupe) chegar aqui (no Espírito Santo). Hoje a nossa federação nacional está lançando um repúdio contra isso porque os motoristas de aplicativo não têm como reduzir ainda mais o pouco que estão conseguindo ganhar nessa crise do coronavírus”, desabafou.
Müller reclamou ainda de decreto que, segundo ele, está sendo estudado pelo governo do Estado para instituir confinamento obrigatório diante do potencial colapso do sistema de saúde. “Temos informações de que, segundo o decreto, quem será autorizado a fazer o transporte serão apenas os taxistas. Os motoristas de aplicativo seriam retirados durante o lockdown. Precisamos lutar contra isso”, conclamou.
Houve ainda reclamações relacionadas à falta de segurança – que está resultando na continuidade de assassinatos de motoristas – e sobre notas de avaliação. Neste caso, bons motoristas estariam sofrendo represália de usuários que resistem em usar máscaras ou que insistem em viajar na parte da frente dos veículos. Segundo o vice-presidente Ricardo Avelino, os motoristas sofrem essas represálias quando cancelam a viagem e se recusam a transportar passageiros nessas condições.
Cancelamento automático
O representante dos motoristas de aplicativo da Serra Rafael Salvador Gracindo cobrou que o Uber cancele automaticamente a viagem quando o motorista informar que o passageiro está sem máscara ou se recusa a ir no banco traseiro dos veículos.
Ele criticou a empresa por oferecer a opção de o condutor dar continuidade à viagem mesmo em situações nas quais o passageiro descumpre as determinações das autoridades sanitárias. “O Uber pergunta se apesar disso a gente quer continuar a corrida ou não. Eles teriam de cancelar automaticamente e o motorista receber pela viagem, pois o cancelamento não se dá por culpa nossa”.
Rafael pediu ainda ao Uber que melhore as informações sobre o destino dos passageiros, coisa que, em sua avaliação, é bem feito pelo 99 POP. Essa medida, segundo ele, ajuda no combate à criminalidade. Ele cobrou ainda o serviço de monitoramento dos veículos de app por câmeras e mais eficiência da polícia no combate aos criminosos que ameaçam o setor.
Segundo disse, dois carros de aplicativo foram roubados em Colina de Laranjeiras, na Serra, e o Ciodes foi informado sobre o fato. “Curiosamente logo depois encontramos uma ‘viatura da guarda’ em Manguinhos (bairro da Serra) e eles (os guardas) nem sabiam que os carros haviam sido roubados”, lamentou.
Argumentos do Uber
O representante do Uber no Espírito Santo Pedro Santos também participou da reunião. Ao responder questionamento de Vandinho Leite (PSDB) sobre possível concessão de auxílio financeiro a motoristas da empresa suspeitos de Covid-19, mesmo sem o exame positivo, afirmou que é um caso a ser discutido.
Ele explicou que o Uber é uma multinacional e o assunto poderá ser levado para a matriz no exterior, já que a exigência da apresentação do exame com resultado positivo é feita pela empresa em todo o mundo.
“Para hoje a gente ainda não consegue resolver esses casos de motoristas com suspeita. Devido à quantidade de motoristas isso fica um pouco difícil, não é a maioria dos motoristas, mas surgiram também alguns atestados falsos (de Covid-19 apresentados por motoristas de app no Brasil), o que dificulta ainda mais a questão”, argumentou.
Sobre aperfeiçoamentos no sistema para melhorar a identificação dos destinos das viagens, Pedro disse que isso poderá ser melhorado e já vem sendo discutido com a categoria. Ele afirmou ainda que a solução para os problemas enfrentados pelos motoristas é difícil porque falta ao Poder Público cumprir com suas responsabilidades.
Conforme disse, a empresa chegou a tentar em Brasília um acordo com o governo Federal para que os profissionais do setor fossem atendidos pelo auxílio emergencial de R$ 600, mas nada foi adiante nesse sentido.
Ao divulgar que o Uber está ajudando moradores de comunidades carentes em todo o País por meio da Central Única de Favelas (Cufa) com a doação de cestas básicas, Pedro foi questionado por Fernando Müller se essa doação poderia se estender aos motoristas que prestam serviço para a empresa.
Ele sinalizou com a possibilidade e disse que se houver avanços nesse sentido acredita que será necessário um mapeamento em todo o País dos motoristas que mais necessitam, já que não seria possível atender a todos eles. O representante sugeriu que, em havendo entendimento nesse sentido, as entidades que representam os motoristas deveriam indicar os mais necessitados.
Sobre represálias de passageiros por recusa de motoristas em transportá-los sem máscaras, Pedro Santos informou que os clientes já estão sendo orientados a sentar atrás nos veículos e a usar máscara. “Vocês (motoristas do Uber) podem ficar tranquilos que se formos informados de que cancelaram a viagem porque o passageiro se recusou a tomar as medidas de segurança contra o corona não iremos considerar avaliação negativa dessas corridas”, assegurou.
99 POP
Representante da 99 POP, Paulo Dallari esclareceu sobre o lançamento do serviço 99 Poupa. Explicou que não se trata de uma obrigatoriedade, pois o motorista pode recusar adesão ao sistema que está oferecendo, atualmente apenas no Rio de Janeiro, desconto de 15% em algumas viagens.
“Hoje uma boa parte das corridas não são realizadas devido à queda na renda dos passageiros. Nossa intenção é que esse produto não ‘canibalize’ o POP tradicional, tanto que está ativo apenas em horários de baixa demanda e em áreas de baixa renda”, salientou.
Dallari disse que a 99 se adiantou muito no Brasil em relação a medidas de prevenção ao novo coronavírus devido à troca de informações com a sede da matriz, que fica na China, e é administrada pela Didi Chuxing.
Ele afirmou que a Didi Chuxing criou um fundo mundial de US$ 99 milhões como auxílio financeiro a motoristas da empresa que ficam em casa em quarentena devido à determinação médica por causa de suspeitas ou comprovação de contaminação pelo novo coronavírus. Além disso, foi criado um fundo no Brasil de R$ 4 milhões para estados e municípios num auxílio aos serviços e aos profissionais de saúde.
“Trouxemos também para o Espírito Santo um produto que cria uma barreira por 72 horas que desativa o vírus se ele estiver dentro dos veículos da 99 POP. Três mil veículos nossos estão sendo desinfectados aqui no estado”, disse.
Os representantes do Uber e do 99 POP falaram durante a reunião a respeito de medidas de segurança contra o vírus que as duas empresas estão tomando no ES com a distribuição de máscaras e de álcool em gel para os motoristas. Eles falaram também sobre doações de valores pagos a corridas ofertadas aos motoristas de app e a instituições filantrópicas.
Delegacia
Presente também à reunião virtual, o chefe de investigação da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Cibernéticos, Hércules Aranda, disse que a instituição policial está à disposição para ajudar na prevenção e investigação de crimes contra motoristas no Espírito Santo.
Como se trata de um serviço acionado por celular, ele disse que a delegacia tem experiência nesse tipo de investigação, mas deve receber o maior número de informações possíveis para facilitar a atuação nos casos.
Indicações
O presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo, Vandinho Leite, adiantou que apresentará indicação para criação de pelo menos um núcleo especializado dentro da Polícia Civil para atender as ocorrências motoristas de aplicativo. Disse também que a frente parlamentar fará outras indicações ao Poder Público e às empresas Uber e 99 POP para solucionar as demandas apresentadas pelos motoristas.
O encontro contou ainda com a participação dos deputados Capitão Assumção (Patri) e Delegado Lorenzo Pazolini (Republicanos). Ambos manifestaram apoio aos motoristas nas reivindicações apresentadas. Com Ales.