A Doença de Crohn, enfermidade inflamatória intestinal crônica e ainda sem cura, tem conquistado espaço crescente na agenda da saúde pública brasileira. O aumento de sua incidência, aliado à complexidade dos casos, reforça a necessidade de políticas mais robustas e de uma atuação integrada entre profissionais de saúde.
O coloproctologista Ithalo Medeiros analisa o panorama atual da doença e os impactos dessa evolução sobre o sistema de saúde e sobre a vida dos pacientes.
Dados recentes mostram que os diagnósticos da Doença de Crohn no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram de 27.551 em 2012 para mais de 106 mil em 2022, salto de 288% em uma década.
Apesar do crescimento expressivo, a tendência de hospitalizações e cirurgias tem seguido direção oposta. A taxa de internações caiu de 6,19% para 2,52% no período, enquanto a proporção de procedimentos cirúrgicos por paciente foi reduzida em 55%.
Ainda assim, o comportamento da doença no Brasil não é uniforme. Um estudo nacional referente ao período entre 2012 e 2020 apontou discreta queda na incidência anual de Crohn no sistema público, enquanto os casos de colite ulcerativa aumentaram, evidenciando nuances importantes no perfil das doenças inflamatórias intestinais no país.
Além de afetar milhares de pessoas, a Doença de Crohn também é vivida por personalidades internacionais que trazem visibilidade ao tema. O comediante Pete Davidson, do Saturday Night Live, já relatou como convive com a enfermidade e a importância das terapias biológicas para controlar os sintomas.
O guitarrista Mike McCready, da banda Pearl Jam, é uma das vozes mais engajadas na conscientização sobre doenças inflamatórias intestinais, enquanto a nadadora olímpica Kathleen Baker se tornou símbolo de superação ao conquistar medalhas mesmo enfrentando os desafios da doença. Esses relatos públicos ajudam a ampliar o debate e reforçam a necessidade de diagnóstico precoce e cuidado multidisciplinar.
Segundo o Dr. Ithalo Medeiros, os avanços terapêuticos são significativos, mas não eliminam os riscos associados à progressão da doença. Um levantamento recente no SUS indica que 8,3% dos pacientes desenvolvem ao menos uma complicação intestinal após o primeiro ano do diagnóstico, sendo as fístulas entre as mais frequentes.
As manifestações extraintestinais, ressalta o especialista, ampliam ainda mais a complexidade do quadro: entre 25% e 46% dos pacientes podem apresentar acometimentos musculoesqueléticos, dermatológicos, oftalmológicos, hepatobiliares, vasculares ou renais.
Para o coloproctologista, enfrentar o cenário atual exige uma abordagem multidisciplinar. “Embora estejamos avançando no diagnóstico e no tratamento, muitos pacientes ainda convivem com complicações debilitantes. A incorporação de novos medicamentos no SUS pode transformar vidas”, afirma.
Entre os principais desafios para os próximos anos, o especialista destaca:
Ampliação do acesso às terapias biológicas, fundamental para pacientes com formas graves da doença.
Detecção precoce de complicações, uso de tecnologias de imagem e biomarcadores para identificar lesões antes de danos irreversíveis.
Atenção integral ao paciente, dada a diversidade de manifestações, o cuidado deve envolver gastroenterologistas, cirurgiões, reumatologistas, dermatologistas e outros especialistas.
Educação e conscientização: tanto entre profissionais de saúde quanto na população geral, para reduzir atrasos diagnósticos, frequentes devido à variabilidade dos sintomas.
“O momento da Doença de Crohn no Brasil é paradoxal, os casos aumentam, mas as hospitalizações e cirurgias diminuem, reflexo dos avanços terapêuticos. No entanto, a complexidade da doença ainda exige esforço contínuo para garantir manejo eficaz e ampliar o acesso a tratamentos modernos”, resume dr. Ithalo.










