STRONGER** A mais forte De Ricardo Leitte – Inspirado na obra de August Strindberg. A inclusão de pessoas com deficiência, doenças raras, invisíveis e a diversidade em sua mais ampla apresentação no cenário da sociedade atual é mais que importante, torna-se necessário. É justamente essa necessidade que fez com que o autor e diretor Ricardo Leitte se debruçasse sobre o texto contundente de Strindberg para dar espaço às pessoas com deficiências e doenças invisíveis, juntamente com a atriz e produtora Dani Guedes, que em 2018 se tornou uma pessoa com deficiência física.
Protagonizada por Dani Guedes e Sarah Lopes a produção é uma retomada da antiga montagem de 2018 que ocupou a sala experimental do Teatro Augusta, onde 2 mulheres medem forças que vão além dos segredos e angústias, numa noite fria de Natal, no depósito de uma loja de departamentos de Nova Iorque nos idos dos anos 1950, um período em que as aflições femininas eram invisíveis. Em pouco mais de uma hora, faz-se aparente todo esse discurso relevante, onde a força e a fragilidade parecem ocupar um ringue de luta.
Com cenário elegante e sóbrio: uma chaise longue, um tapete, um manequim, biombos e caixas espalhadas, elas lidam com a falta de ar e de conforto que o ambiente oferece, enquanto lá fora as luzes natalinas piscam indiferentes. Nessa nova versão, uma das personagens carrega, além dos dramas psicológicos, a própria deficiência em si física, cognitiva e sensorial. Para isso, a atriz Dani Guedes resolveu expor seus dramas reais, provando que a doença ou a deficiência não impedem que sonhos sejam realizados, e em busca de um trabalho que possa mostrar, questionar e acima de tudo dar esperanças às mulheres que passam por desafios como esses. Não há nada mais forte e assertivo que Stronger – A Mais Forte. O público alvo é o núcleo de mulheres com deficiências raras e ONGs que acolhem essas pessoas, mas é também entretenimento inteligente para o público. Nunca STRINDBERG foi tão necessário e inclusivo.
SOBRE DANI GUEDES
Após colocar 24 pinos na coluna e perder a mobilidade torácica, descobriu em 2020 um tumor raro que a fez perder a hipófise (conhecida como a mãe do corpo humano) a glândula que fabrica todos os hormônios do corpo. Com essa perda a atriz desenvolveu diversas comorbidades raras, cognitivas, físicas e sensoriais, entrando para um grupo de mulheres que lutam para conquistar uma vida mais próxima da normalidade possível, aprendendo a viver com o abandono de seus parceiros, a solidão e a falta de informação até mesmo de profissionais da saúde.
A maioria das mulheres que são acometidas ou tem filhos com doenças raras são abandonadas pelos parceiros e jamais conseguem retornar ao mercado de trabalho, tem suas vidas destruídas pela falta de inclusão e conhecimento. Sabemos, porém, que a arte salva, e essas mulheres precisam dela para terem suas vidas dignas. “Eu poderia fazer teatro mesmo que todo meu corpo não reagisse mais, apenas com o piscar dos meus olhos” – Dani Guedes.