Uma pesquisa publicada na 24ª edição da Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil trouxe à tona as disparidades na distribuição dos serviços de saúde voltados ao câncer de mama em Pernambuco. O estudo, conduzido por Rosalva Silva e defendido em 2024 no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Fiocruz Pernambuco, intitulado Integralidade da Atenção à Saúde da Mulher com Câncer de Mama: Uma Análise da Rede de Oncologia em Pernambuco, foi orientado por Tereza Lyra, pesquisadora do Departamento de Saúde Coletiva.
De acordo com a pesquisa, a Região Metropolitana do Recife concentra grande parte dos serviços e equipamentos essenciais para o tratamento do câncer de mama em Pernambuco, com 64,4% dos mamógrafos, 64,5% dos aparelhos de ultrassonografia e 65,1% dos serviços de tratamento de câncer. No entanto, as regiões da Zona da Mata, Agreste e Sertão do São Francisco sofrem com a falta de infraestrutura, forçando as pacientes a viajar para a capital ou outras localidades em busca de atendimento. Além disso, a pesquisa destacou uma preocupante falta de serviços de biópsia de mama na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o estudo, das sete unidades previstas no Plano Estadual de Oncologia, três não realizaram biópsias nos últimos cinco anos, e duas começaram a oferecer o serviço somente em 2022.
A análise revelou que a falta de acesso a serviços de diagnóstico e tratamento no interior do estado compromete o diagnóstico precoce e o início do tratamento para as mulheres, principalmente aquelas que dependem exclusivamente do SUS. A sanitarista responsável pela pesquisa explicou que a concentração de serviços na Região Metropolitana do Recife gera grandes lacunas assistenciais nas demais áreas do estado, dificultando a oferta de um atendimento oportuno e equitativo. A urgência de reorganizar a rede de atenção ao câncer é destacada, de modo a alinhar os serviços às necessidades locais e fortalecer o SUS, permitindo a implementação eficaz de políticas públicas, como a Lei 14.758/23 e o Programa Mais Acesso a Especialistas.
O estudo também indicou que, embora algumas regiões tenham equipamentos disponíveis, a falta de articulação entre os serviços prejudica a utilização eficaz desses recursos, obrigando as pacientes a procurarem atendimento em municípios próximos à capital. A pesquisa concluiu que é imprescindível reorganizar a rede de atenção ao câncer de mama em Pernambuco, ampliando os serviços de diagnóstico, descentralizando equipamentos e fortalecendo a comunicação entre municípios e macrorregiões. Isso garantiria um atendimento mais equitativo e eficiente.
A tese de Rosalva Silva também enfatizou a importância de iniciativas para expandir o acesso das mulheres ao rastreamento e diagnóstico precoce, como mamografias e biópsias, a fim de atender às necessidades regionais e reduzir as desigualdades na saúde pública. Pelo trabalho desenvolvido, a pesquisadora recebeu menção honrosa no Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2024, reconhecendo a relevância de sua pesquisa na área da saúde pública.