Apesar da pandemia do novo coronavírus, o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Espírito Santo (Hemoes) tem conseguido manter estoque de sangue suficiente para atender a demanda de pacientes. No entanto, há necessidade de conscientizar a população sobre a importância de aumentar as doações – que vêm caindo nos últimos meses.
O alerta foi feito à Comissão de Saúde, nesta terça-feira (16), pela diretora técnica do Hemoes, Rachel Lacourt Costa do Amaral. Segundo ela, a redução no número de bolsas atinge principalmente os tipos sanguíneos mais frequentes: A+ e O+. Entre o início de maio até a última segunda (15) houve queda no número de bolsas sangue de 136 para 51 (A+) e 93 para 29 (O+).
Em reunião virtual realizada nesta terça (16), Rachel fez um relato das ações empreendidas pelo Hemoes para atrair voluntários, mesmo em época de pandemia. Pontuou entre as medidas uso de mídia espontânea nas redes sociais estimulando o ato. “Tivemos também em abril parceria com o Uber com doações de voucher para o transporte gratuito de doadores, o que nos ajudou muito”, informou.
O presidente do colegiado, deputado Doutor Hércules (MDB), reforçou a necessidade de ampliação das campanhas. Ele disse que se preocupa com o assunto e por isso apresentou o Projeto de Lei (PL) 211/2017. A matéria resultou na Lei Estadual 10.775/2017, instituindo o “Junho Vermelho” no ES. A iniciativa incluiu no calendário oficial do estado junho como o mês de conscientização sobre a importância da doação.
Gerenciamento de crise
A gestora do Hemoes relatou que foi montado um grupo de gerenciamento de crise em decorrência do coronavírus que tem se reunido semanalmente e tomado iniciativas para que os serviços do centro sejam afetados o menos possível.
Entre as medidas adotadas está havendo abordagem na recepção e na convocação de doares para saber se estão com sintomas de gripe ou se tiveram contato com pessoas suspeitas de Covid-19. E ainda monitoramento das condições de saúde dos servidores da instituição com a realização periódica de testes rápidos para identificar o coronavírus.
Outra providência tomada foi o fornecimento de máscaras cirúrgicas aos doadores e pacientes e redefinição de critérios de triagem clínica para as doações. “Afastamos também todos os servidores do Hemoes que fazem parte do grupo de risco para o novo coronavírus, preservando a saúde deles e dos usuários dos nossos serviços”, acrescentou.
Plasma convalescente
Conforme Rachel, a instituição está ajudando na busca de soluções para o enfrentamento da Covid-19. E por isso elaborou protocolo sobre o plasma convalescente. Esse tratamento consiste em aplicar a “parte líquida do sangue” de pessoas que já se curaram do novo coronavírus em pacientes que ainda estão lutando contra ele.
A medida é recomendada pelo Ministério da Saúde (MS), pois relatório das autoridades sanitárias norte-americanas sugere que essa técnica é segura — os testes de eficácia ainda estão em desenvolvimento.
Sobre o atendimento ambulatorial no Hemoes, Rachel informou que há triagem para consultas eletivas e regras de afastamento mínimo entre os pacientes. Relatou também parceria com agência de transfusão de sangue do Hospital Silvio Avidos, em Colatina, e Hospital Geral de Linhares para pacientes do programa transfusional que residem no norte capixaba.
“Estamos ainda dando suporte à agência transfusional da Santa Casa de Misericórdia de Vitória para transfusão de imunodeprimidos e realizando dispensação de hemoderivados suficiente para prazos prolongados para pacientes portadores de hemofilias”, acrescentou.
A diretora afirmou ainda que as discussões sobre a implantação de uma unidade do Hemoes na região sul do estado foram paralisadas devido ao novo coronavírus, mas o governo Estadual trata o assunto como prioritário. Ela respondeu a questionamento do vice-presidente do colegiado, deputado Dr. Emílio Mameri (PSDB), e disse que as gestões para a concretização do projeto deverão retornar logo que a pandemia passar.
Obesidade infantil
Outro tema discutido no colegiado foi a obesidade infantil no Espírito Santo. O médico pediatra e professor da Emescam Valmin Alves da Silva disse que a questão é “muito preocupante”, pois 27,5% dos adolescentes da Grande Vitória já têm excesso de peso. Ele informou que a constatação foi feita em tese de doutorado em Pediatria de Janine Pereira da Silva, em 2016.
O médico citou outras pesquisas realizadas pela faculdade nos últimos anos que apontam o agravamento do problema no estado. Entre elas uma dissertação de mestrado em Pediatria que fez avaliação nutricional em creches do norte capixaba em 2016. Os estudos da mestranda Emile Dutra apontaram que 22,7% das crianças tinham risco de sobrepeso; 10,1% apresentavam sobrepeso e 6,5% já eram obesas.
Outro levantamento sobre o estado nutricional de crianças e adolescentes foi feita em internações no Hospital Infantil de Vitória. Envolveu um total de 1.523 pesquisados. Segundo relatou Valmin, 11,7% dos menores de idade apresentaram risco de sobrepeso; 5,2% estavam acima do peso e 2,5% com obesidade.
Magreza x gordura
O pós-doutor em Pediatria avaliou que o Brasil praticamente venceu o fenômeno de crianças desnutridas nas últimas décadas, mas, em boa parte, no lugar da magreza veio a gordura, que é outro problema de saúde. Ele apontou entre as causas o hábito alimentar do brasileiro, que é “péssimo”, estimulado em boa parte pela indústria do consumo de produtos alimentícios industrializados.
Valmin citou o lobby publicitário das indústrias de biscoito, refrigerante e batata frita como uma barreira para vencer o problema. Em sua opinião, esses setores do mercado “driblam” os esforços do Poder Público no sentido de diminuir a quantidade de gordura, sal e açúcar nos alimentos.
“A sociedade precisa se mobilizar para mudanças de rumo, pois se continuar na rota em que estamos, em 2022 o número de crianças obesas no Brasil será maior do que as com peso normal”, alertou. Ales.